“Gíria não, dialeto”: entrelinhas do pretuguês nos conflitos linguístico-raciais de denominação
Resumo
Se colonialmente nomear era definir, renomear erigiu-se como um ato de negritude na diáspora africana. Isto posto, em vista dos apagamentos históricos em diversos âmbitos da ciência, por intermédio do genocídio, epistemicídio e linguicídio, que inculcam nos sujeitos marginalizados a falta do reconhecimento de suas identidades, este artigo tem por objetivo discutir as conceptualizações e seus desdobramentos sociais, raciais e linguísticas acerca das terminologias “gíria”, “dialeto” e “pretuguês”. Para tanto, discutimos acerca do conceito de pretuguês (GONZALEZ, 1988) e do processo de reificação deste num contexto de avanço na racialização dos estudos linguísticos (SANTOS, 2024). Ademais, problematizamos o conceito de “gíria” e “dialeto” enquanto categorias que carregam estigmas sociais no campo teórico quando relacionadas a comunidades de fala racialmente negras; bem como sua diferenciação de funcionamento discursivo no seio de comunidades culturais fomentadas pelos movimentos negros educadores. Por conseguinte, compreendemos que o pretuguês, embora não nomeadamente assumido enquanto terminologia dada à sua recém ascensão, sempre esteve na raiz dos conflitos raciais da diáspora, diretamente defendido como herança racial africana numa sociedade eurocêntrica e colonialmente normativa.
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