“Gíria não, dialeto”: entrelinhas do pretuguês nos conflitos linguístico-raciais de denominação

Autores

  • Sávio Oliveira da Silva Santos Universidade Estadual de Santa Cruz image/svg+xml

Resumo

Se colonialmente nomear era definir, renomear erigiu-se como um ato de negritude na diáspora africana. Isto posto, em vista dos apagamentos históricos em diversos âmbitos da ciência, por intermédio do genocídio, epistemicídio e linguicídio, que inculcam nos sujeitos marginalizados a falta do reconhecimento de suas identidades, este artigo tem por objetivo discutir as conceptualizações e seus desdobramentos sociais, raciais e linguísticas acerca das terminologias “gíria”, “dialeto” e “pretuguês”. Para tanto, discutimos acerca do conceito de pretuguês (GONZALEZ, 1988) e do processo de reificação deste num contexto de avanço na racialização dos estudos linguísticos (SANTOS, 2024). Ademais, problematizamos o conceito de “gíria” e “dialeto” enquanto categorias que carregam estigmas sociais no campo teórico quando relacionadas a comunidades de fala racialmente negras; bem como sua diferenciação de funcionamento discursivo no seio de comunidades culturais fomentadas pelos movimentos negros educadores. Por conseguinte, compreendemos que o pretuguês, embora não nomeadamente assumido enquanto terminologia dada à sua recém ascensão, sempre esteve na raiz dos conflitos raciais da diáspora, diretamente defendido como herança racial africana numa sociedade eurocêntrica e colonialmente normativa.

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Publicado

2024-11-28

Como Citar

SANTOS, Sávio Oliveira da Silva. “Gíria não, dialeto”: entrelinhas do pretuguês nos conflitos linguístico-raciais de denominação. Semana de Educação da Pertença Afro-Brasileira, [S. l.], v. 2, p. 11–20, 2024. Disponível em: http://anais2.uesb.br/index.php/sepab/article/view/1490. Acesso em: 22 dez. 2024.